sábado

Entrevista sobre o 25 de Abril dada a um jovem de 12 anos

1. Fiquei muito contente quando soube que o Movimento das Forças Armadas tinha tomado o poder, mas não fiquei nada surpreendido porque tudo indicava que o regime estava a desmoronar-se.
Nas colónias, a guerrilha movida pelos diversos movimentos de libertação nacionalistas, com o apoio das populações, já durava há 14 anos em Angola, onde começara. Em Moçambique, os guerrilheiros controlavam grande parte do território e na Guiné a situação era ainda pior para as tropas portuguesas que já nem saíam dos quartéis que eram bombardeados sistematicamente – estava provado que a guerra não podia ser vencida militarmente. E o regime, pela sua natureza demasiado homogénea e impenetrável, não tinha capacidade de evoluir sem entrar em ruptura. O general Spínola, que era um dos principais chefes militares já havia publicado o livro, Portugal e o Futuro, demarcando-se da linha política do regime. O movimento dos capitães já tinha feito uma tentativa de golpe que abortara. Ao contrário do que acontecera no início dos anos 60, os que se recusavam a ir para a guerra já não eram considerados cobardes que tinham medo de combater e havia muitos refractários (jovens que faltavam às incorporações) e muitos desertores – a esmagadora maioria desertava em território nacional, antes dos embarques para as colónias. Tudo indicava que o fim da ditadura estava para breve e nunca acreditei que a PIDE, com tantos informadores infiltrados em toda a parte, não tivesse conhecimento da iminência do golpe.

2. Eu estava na Suécia, em Uppsala, numa pequena cidade universitária a 70 km de Estocolmo. Era um dia igual a todos os outros, enfim, cabulava mais do que estudava – em dois anos concluíra apenas um curso de sueco que poderia ter terminado em 6 meses. Juntei-me a outros amigos que também eram desertores como eu ou refractários e tentámos informarmo-nos do que estava a acontecer. Ficámos numa atitude expectante.

3. Antes do 25 de Abril, Portugal era muito mais pobre e a riqueza ainda pior distribuída. Havia muita gente a viver da agricultura e no Alentejo, nos grandes latifúndios, as relações entre os senhores da terra e os trabalhadores eram quase feudais. O rendimento médio dos portugueses era muito baixo, não havia sistema de saúde nem de segurança social e apenas uma percentagem baixa dos portugueses tinha acesso à educação. A moral era tacanha e a coação social era violenta. Portugal estava isolado do resto da Europa e mantinha as suas colónias através de um esforço de guerra contra os movimentos de libertação em Angola, em Moçambique e na Guiné. O regime tentava perpetuar-se no poder controlando a vida dos cidadãos através de todos os meios e impedia que estes se unissem para mais facilmente governar contra o interesse da maioria. Esta não tinha acesso ao essencial para ter uma vida digna e era vigiada e reprimida pela polícia política que teve várias designações, sendo a mais conhecida, PIDE – Polícia Internacional de Defesa do Estado.
Não havia liberdade de expressão, por isso era perigoso expressar, em público e a desconhecidos, opiniões contrárias ou diferentes da verdade oficial, havia muitos informadores da PIDE que nos locais de trabalho, nos cafés, em toda a parte, recolhiam informações sobre as pessoas, principalmente, sobre os oposicionistas do regime. Esses cidadãos eram fichados pela polícia política e perseguidos de várias formas, por exemplo, era-lhes negado um passaporte (a possibilidade de se deslocarem legalmente ao estrangeiro), o acesso a determinados empregos (o regime exigia declarações dos candidatos dizendo que não eram comunistas e consultava a PIDE para saber se estavam fichados), outros indivíduos eram impedidos de se matricularem em escolas públicas, e outros impedidos de exercerem a sua profissão, etc. …
Havia censura prévia aos jornais, aos livros, aos filmes, às peças de Teatro e a todos os espectáculos culturais. Felizmente os censores eram estúpidos e incultos o que dava origem a anedotas e a que algumas informações circulassem se fossem suficientemente dissimuladas. A canção Tourada, cantada pelo Tordo com letra do Ary dos Santos é um exemplo, a pretexto da glorificação da chamada Festa Brava, fazia uma crítica feroz ao regime. Livros que se encontravam já à venda nas livrarias por vezes eram apreendidos e retirados do mercado pela PIDE. Um livro brasileiro de construção civil sobre cimento armado, cujo título era, Manual de concreto armado, foi considerado subversivo por um PIDE e apreendido porque ele pensou que o livro tivesse algo que ver com armas.
Não havia multipartidarismo, a única força política legal era a União Nacional que ocupava todos os lugares da Assembleia Nacional, órgão que pretendia ser um parlamento.
As eleições eram uma farsa com contagens de votação viciadas favorecendo escandalosamente os candidatos do regime e quando permitiram candidaturas de oposicionistas, era para salvar a aparência na cena internacional e, também, para identificarem e melhor conhecerem os oposicionistas e os seus apoiantes.
Apenas os homens eram eleitores e as mulheres que fossem cabeça-de-casal, portanto, só os homens e as viúvas com vida profissional activa podiam votar.
As escolas eram só para rapazes ou só para raparigas. Mais tarde, permitiram turmas mistas nos últimos anos do liceu e apenas em algumas escolas.

Era triste viver em Portugal, o quotidiano era pesado, opressivo (por tudo o que já descrevi) e muita gente vivia na miséria, trabalhando e enriquecendo um pequeno grupo de capitalistas e proprietários.

4. Durante a minha adolescência estive ligado a muitos grupos oposicionistas, mas não pertenci a nenhuma organização clandestina. Fui activista e membro do M.A.E.S.L. – Movimento Associativo dos Estudantes do Ensino Secundário. Este movimento pró associativo não era reconhecido, ao contrário das Associações de Estudantes, mas era tolerado. Por não ser homologado, quase que não tinha interferência na vida das escolas, apenas permitia a estudantes que eram contra a situação que se vivia em Portugal na época debater ideias e “conspirar” contra o governo. Como é óbvio, todos os estudantes que participavam neste movimento estavam fichados pela PIDE.
No princípio dos anos 70, os estudantes já debatiam abertamente a guerra colonial e alguns grupos clandestinos organizaram manifestações contra a guerra. Participei em quase todas e várias vezes tive de correr à frente da polícia, nunca tendo sido espancado ou preso como aconteceu a alguns amigos meus. Estas manifestações eram vigiadas e muitas vezes filmadas pela PIDE
Na Páscoa de 1972, estava a passar férias em Paris, quando recebi um telegrama dos meus pais e tomei conhecimento que tinha sido chamado para a tropa. Comecei a preparar tudo para ficar em França. Entretanto, através de conhecimentos, o meu pai conseguiu adiar a minha incorporação para Outubro. Regressei a Portugal, apenas para me despedir dos amigos e da família e, também, para planear o meu exílio – recusava-me liminarmente em participar na guerra colonial.
Na época a ARA, organização armada do Partido Comunista Português, estava bastante activa e tinha feito vários atentados à bomba contra instalações militares. Na sequência de uma investigação, a 12 de Agosto de 1972, fui detido pela PIDE, em casa dos meus pais onde residia. Apreenderam também alguns livros proibidos que eu possuía e material de propaganda da Internacional Situacionista que eu distribuía por entre os amigos e conhecidos.
Fui levado para a sede da PIDE, fui interrogado e ameaçado, queriam saber onde se encontrava a minha irmã, várias vezes pensei que ia ser espancado. Depois, subitamente, o interrogatório parou, mais tarde soube pelos próprios PIDES que a minha irmã também tinha sido presa. Seguiu-se a fase de identificação: fotografaram-me em várias posições, mediram-me em altura e tiraram-me as impressões digitais. Duas ou três horas depois já estava na prisão de Caxias, se não me engano, na cela n.º 12 – a sensação de entrar num quarto com uma janela com grades e com uma única porta sem fechadura é horrível.
A operação tivera uma certa envergadura. Naquele dia detiveram várias dezenas de indivíduos quase todos muito jovens e a grande maioria estudantes. Como o interesse que tinham em mim não era prioritário, só fui interrogado ao fim de 11 dias.
Ao 2º dia, cortaram-me o cabelo e raparam-me a barba. Os dias passavam muito devagar, não tinha nada para fazer, não tive jornais nem livros para ler durante vinte seis dias. As noites eram agitadas sempre pelo vaivém de presos que eram levados e trazidos dos interrogatórios, a partir da meia-noite até cerca das quatro da manhã.
O meu interrogatório começou às 2 da manhã do 11º dia, ainda não tinha adormecido quando me vieram buscar e estava a ficar com sono. Fui levado num carro celular para outro edifício, onde faziam os interrogatórios. A sala tinha apenas uma mesa e duas cadeiras. De um lado sentava-se o preso e do outro o PIDE, que era substituído de tempos a tempos. Por vezes, entravam outros agentes que ficavam a olhar para mim com um ar ameaçador ou segredavam qualquer coisa ao agente que já se encontrava na sala, talvez fingindo que já tinham obtido qualquer informação de outro preso. Nas primeiras 48 horas a única coisa que disse foi “nunca atentei contra a segurança do estado”, “não sei” e “não me lembro”. Nunca me deixavam adormecer quando estava sentado e obrigaram-me a permanecer de pé bastante tempo. Às vezes levantava-me e ia para junto da janela e de pé, levemente apoiado, conseguia dormitar uns breves instantes, até que percebiam o que estava a acontecer e me chamavam. Quando estava sentado e adormecia, mesmo com os olhos abertos, a cabeça às tantas pendia, o agente batia na mesa com força e acordava-me. Os sons que vinham das salas vizinhas eram ameaçadores, ouvia gritos, pancadas, etc. … Sabia que muitos dos sons que ouvia eram gravações que eles utilizavam para provocar e perceberem se o preso já estava a ter alucinações. Ao fim das 48 horas, já não distinguia a realidade, do sonho ou da alucinação. Comecei a temer que chegasse a um estado em que começasse a falar sem querer e, portanto, sem controlo da situação. Pelas perguntas que me faziam, fui percebendo que não tinham nada em concreto contra mim e quando recomeçaram a interrogar-me sobre a propaganda da Internacional Situacionista, resolvi responder que tinha os panfletos e publicações para distribuir. Então, concluíram que eu era distribuidor. Eu disse que não era porque não os tinha distribuído. Depois de muito insistirem em saber quem me tinha dado a propaganda, entreguei-lhes o nome de uma pessoa que, de facto, não era quem mos tinha entregue, era um amigo que já tinha saído do país. Para todos os efeitos, ficaram visivelmente satisfeitos porque eu já estava a falar e eu fiquei um pouco em baixo por ter prestado declarações, preferia ter conseguido dizer não até ao fim, mas foi uma situação de compromisso e não prejudiquei ninguém.
Ao fim de 74 horas de interrogatório, disseram-me que podia dormir numa cama que estava num pequeno quarto junto à sala de interrogatório, era uma cama que os PIDES usavam para descansarem. Levei muito tempo até conseguir adormecer, primeiro porque estava muito agitado e, também, porque temia que continuassem a fazer-me perguntas. Por fim, adormeci esgotado. E, no dia seguinte, de manhã cedo, levaram-me para a cela onde permaneci em isolamento até me libertarem, sob caução, no início de Outubro.
Fora preso sem culpa formada, nunca tive nada que ver com a ARA, nem com acções armadas, não pertencia a nenhuma organização política clandestina, etc. … Apenas era um jovem que exprimia em público as suas opiniões contra o regime e contra a guerra.
Menos de 1 semana depois de me encontrar em liberdade, tendo passaporte e ainda a ser vigiado diariamente pela PIDE, fui obrigado por estas circunstâncias a fazer o que nunca imaginara – apresentar-me no quartel, na data indicada, para prestar serviço militar. Ao fim de 3 meses decidi desertar e esconder-me em casa de amigos e de familiares, para preparar a minha saída a salto, isto é, ilegalmente. Com a ajuda de um mapa militar, de uma bússola e, principalmente, de um tio que me levou até próximo da fronteira de Vilar Formoso, de noite, a pé, caminhei pelos campos até Fuentes de Oñoro, em Espanha. Aí fui ter com o meu tio que me esperava num café e me levou até uma estação onde apanhei um comboio para Paris e, um mês depois fui para a Suécia, onde pedi asilo humanitário.
Tinha 21 anos e foi o pior período da minha vida, outros sofreram muito mais do que eu, nas mãos da PIDE e na guerra. Hoje, lamento profundamente que os agentes da PIDE não tenham sido julgados e que alguns, como toda a gente sabe, tenham mesmo sido mesmo condecorados. Algo continua podre em Portugal…

5. Sempre fui totalmente contra a colonização. Vivi em Africa, na capital de Moçambique, dos 7 aos treze anos de idade. E dos 13 aos 15 anos vivi em Díli, capital de Timor. As injustiças a que assisti na minha infância e adolescência, que eram totalmente contra a educação familiar que beneficiei, marcaram-me para sempre. Nas colónias havia portugueses de 1ª e de 2ª, estou a falar dos brancos colonizadores e das populações indígenas. Vou apenas recordar alguns episódios quotidianos que caracterizavam aquele regime de excepção que se viveu:
- Para obter um bilhete de identidade e, ao contrário dos brancos, os negros tinham que ter concluído a escola primária, o que era raríssimo, portanto era-lhes negado muitos direitos. Por exemplo, circular depois do anoitecer.
- Nos cinemas, os poucos que tinham dinheiro para comprar um bilhete, só podiam ocupar lugares num balcão especial, para não se misturarem com os brancos.
- Nos transportes públicos não se podia entrar descalço, a esmagadora maioria dos negros não usava sapatos, logo só podiam andar a pé.
- Muitos brancos batiam nos seus empregados. Uma velha coxa que vivia no apartamento por cima do nosso, contava que quando castigava o empregado, mandava-o ensaboar a banheira e obrigava-o a meter-se lá dentro e, depois, batia-lhe com a bengala, ele tinha dificuldade em desviar-se das bengaladas porque escorregava. Este jovem submetia-se àquela tortura porque, se ela fizesse queixa dele no posto de administração, seria espancado com ainda maior violência.
O estado português, que explorava e oprimia os portugueses que viviam na chamada Metrópole, em Portugal, assumiu uma faceta e comportamento ainda mais cruel em África, até porque os colonos vinham de meios sociais muito pobres e era-lhes incutido sentimentos de superioridade, a que vulgarmente designamos racismo.
Em minha casa sempre fomos a favor da independência das colónias. Os processos de descolonização são sempre complexos e geram, muitas vezes, situações de injustiça. Parece-me que se fez a descolonização possível no quadro político da época. Uma parte significativa dos retornados beneficiou, já em Portugal, de ajudas para se integrarem que os outros portugueses nunca tiveram; outros retornados que viveram honestamente do seu trabalho perderam o pouco que arrecadaram e nunca mais conseguiram organizar as suas vidas e atingir o estatuto que ambicionavam. Mas parece-me que quase toda a gente se esquece que, de facto, nas colónias os brancos viveram uma situação de privilégio – um sonho – e é duro acordar para a realidade. As crises políticas e conjunturas sociais, que a retirada das tropas portuguesas provocou em cada uma das colónias, eram inevitáveis e cabe a cada um dos novos estados resolver os seus conflitos, de preferência sem a interferência de outros estados – Todos os povos têm direito à autodeterminação, Abaixo o Colonialismo e o neocolonialismo!

6. O 1º de Maio de 1974, tal como já disse atrás em relação ao 25 de Abril, foi apenas mais um dia em que esperávamos que a situação se clarificasse, particularmente, que fossemos amnistiados para podermos regressar a Portugal sem termos de cumprir o serviço militar obrigatório, sem termos de ir para África continuar a ocupação e mais tarde participar na descolonização.

7. A liberdade de expressão é verdadeiramente fundamental, bem como a de pensamento, de associação, liberdade sindical, de imprensa, de criação artística, de ensino, de religião, liberdade sexual, de escolha de profissão, etc. … Mas é necessário que hajam condições económicas e materiais para que se possa exercer e usufruir a liberdade.

8. Tal como na época, ainda hoje penso que não houve uma revolução. Apenas, um golpe de estado levado a cabo por militares profissionais que sabiam que não podiam vencer a guerra. Os capitães que constituíam o MFA, na sua maioria, tão-pouco eram politizados e ambicionavam pouco mais do que a democracia e o chamado estado de direito que hoje temos. Entregaram o poder ao general Spínola, que era a reserva do antigo regime. Mas, também, permitiram que o movimento social português e os partidos de esquerda que saíram da clandestinidade desencadeassem o PREC – Processo Revolucionário em Curso, que alterou o panorama social português. No dia 25 de Novembro de 1975, novo golpe militar da ala mais moderada do MFA permitiu, desta vez, que o centro-direita se instalasse no poder que tem mantido através de eleições democráticas. Entretanto, muitas conquistas se perderam, mas as condições económicas e sociais melhoraram e, em todos os aspectos, estamos melhor do que estávamos e, a História ainda não acabou!

9. Só regressei a Portugal em Maio de 1976 e, por isso, não tenho recordações do 25 de Abril e do PREC, apenas posso fazer uma avaliação global que considero francamente positiva.

10. A minha vida mudou completamente a partir do momento em que fui amnistiado com a possibilidade de não ser reincorporado nas forças armadas. Estabeleci-me em Portugal de onde tenho saído quase apenas por motivos profissionais, muito raramente só pelo gosto de viajar, também por falta de capacidade económica e, principalmente, por falta de motivação.
Quanto ao País, já o disse e repito, em todos os aspectos, estamos melhor do que estávamos, embora Portugal continue a ser um dos países europeus mais pobres da Europa. E, sem dúvida, foi o golpe militar de 25 de Abril de 1974 e o movimento social, que acabaram com a guerra colonial, com o velho regime, a velha ordem e instituíram as liberdades fundamentais.

25 de Abril sempre!


(Jonas)

Voma Lelé e as Moscas Tontas II

A escuridão era total e o silêncio abafado.
O Alexandre barafustou: “Não vejo nada... Ai! Está aqui um cão... Não me empurres. Olha que ele me morde...”
O Voma Lelé tapou-lhe a boca e rosnou-lhe ao ouvido: “Chiu! O cão é o casaco de peles da minha mãe. Estamos dentro do bengaleiro. Cala-te ou sou eu quem te morde. Quero ver quem entrou na sala.”
Espreitou pelo buraco da fechadura: “É o meu pai. Deve ter vindo atender o telefone.”
O Alexandre começou a agitar-se: “Também quero ver!”
“Pouco barulho. Ele já encontrou o tapete... Parece admirado... Anda à roda com o tapete na mão...”, o Voma Lelé continuava com o rosto colado ao buraco da fechadura: “Agora, abriu a porta da rua e colocou o tapete no sítio...”
O Alexandre tirou uma lanterna minúscula do bolso e começou a explorar o interior do bengaleiro: “Isto é muito grande. Atrás dos casacos há caixas... garrafas... e uma estante... Voma Lelé, encontrei uma estante!”
“Cala-te. O meu pai ligou o televisor e sentou-se. Vamos perder a final da Taça de Portugal. Bolas... ”, o Voma Lelé estava desanimado: “Temos de ficar aqui fechados hora e meia, se não houver prolongamento...”
O Alexandre aproximou-se, a mastigar com a boca cheíssima: “Enconhei... nhaque...nhaque... um’axa de cho... nhaque... late...”
“Estás a fazer muito barulho. Não me digas que partiste uma garrafa de conhaque... Estou perdido.”, o Voma Lelé sentou-se.
O Alexandre sorriu: “Está descansado... nhaque... Não parti nada. Estava a dizer-te que encontrei esta caixa de chocolates. Estamos mesmo dentro do bengaleiro?”
O Voma Lelé, dramatizando, quase gemeu: “Os chocolates da minha mãe... O tapete... O telefonema... E tudo tão de repente...”
O Alexandre, tentando animá-lo, disse: “Come oito quadrados de uma só vez e ficas fixe. Não sabia que a vossa casa era tão esquisita... “
O Voma Lelé fingindo recompor-se, explicou-lhe que estavam numa antiga arrecadação que tinha sido dividida a meio: “... na parede atrás da estante abriram umas portas de correr que dão para o escritório do meu pai...”
A campainha da porta da rua soou e obrigou-o a voltar ao posto de observação: “Acaba de entrar o teu pai!”
O Alexandre lamentou-se: “Estou feito! Desliguei--lhe o telefone na cara, ele reconheceu-me a voz e veio a correr para cá... “
O Voma Lelé tranquilizou-o: “ Não é nada disso. Estão muito sorridentes em frente do televisor. O jogo de futebol vai começar. Estão entretidos.”
O Alexandre afastou-se para mais uma exploração sempre a resmungar: “Não gosto de futebol... não há mais chocolate... não gosto de estar fechado... se não saio daqui fico tantã... nem há moscas...”. Depois, quase gritou: “Estamos presos!”
O Voma Lelé aproximou-se: “Fala mais baixo e ilumina as minhas mãos. Vamos sair daqui”. Tacteou os painéis da estante, abanando-os, até que um cedeu: “ Óptimo, este painel está solto. Passa-me o canivete.”
O Alexandre estava aparvalhado: “Uma passagem secreta... Espectacular... Salvos por uma passagem secreta... “
O Voma Lelé removeu o painel, puxou-o por um braço e pouco depois entravam no escritório: “Não toques em nada!”, preveniu o amigo, arrastando-o até à porta. Encostou o ouvido na madeira para escutar melhor e disse: “Podemos voltar para o quarto.”
O Alexandre rodou a maçaneta e exclamou: “Bolas! Estamos fechados à chave. Temos de sair pela varanda. Usamos o equipamento de alpinismo do teu pai...”
O Voma Lelé interrompeu-o: “Esconde-te debaixo da secretária! Ouvi passos.”
Aguardaram um momento que lhes pareceu uma eternidade. Depois, o Voma Lelé saiu de trás do cortinado onde se escondera, foi buscar o amigo e, mais uma vez, lhe disse: “Não toques em nada. Saímos pela varanda, passamos para a casa da Tia Maria. Ela é muito minha amiga e tem sempre uns biscoitos muito bons...”
O Alexandre ficou muito animado com a ideia e correu para a varanda.
O Voma Lelé seguiu-o: “Estás a ver a parede? Não chega ao tecto, vamos passar por ali. Trepas para o parapeito da janela e depois apoias os pés nos meus ombros...”
Pouco depois o Alexandre estava em cima da divisória: “Vou saltar!”.
“Cuidado com as sardinheiras!”, gritou o Voma Lelé.
Ouviu-se um estrondo e a resposta pronta: “Aterrei em cima de umas plantas que não têm espinhos. Não vejo nenhum peixe aqui. Podes avançar!”
O Voma Lelé ficou desolado, pediu ao amigo: “Espera por mim! Não faças mais nenhum disparate. Não disse sardinhas, disse sardinheiras...”
Como era ágil e estava muito treinado naquela operação, transpôs com facilidade o obstáculo e, quando estava a endireitar um vaso e a compor a planta, apareceu o Alexandre a mastigar: “Tenho uma notícia muito triste para te dar. A tua amiga foi assassinada. Bebeu meia chávena de chá e morreu envenenada. Coitada, nem provou os biscoitos, são mesmo fixes...”
O Voma Lelé estava irritado: “Disse-te para teres cuidado e para esperares por mim. A Tia Maria é muito minha amiga. Acaba com as asneiras!”
O Alexandre, com um ar muito preocupado, disse: “Tens um crime para resolver. A tua amiga está caída no cadeirão. Tem o nariz gelado. Deve estar morta há muito tempo... assassinada!”

(Jonas)

terça-feira

Unza Unza Time by Emir Kusturica & The No Smoking Orchestra

In the beginning at the boring time
back in 1999
The man killed the line
between punishment and the crime

On the planet Earth
there was no more fun
no sex no drugs no rock'n'roll
all music turned to a fashion show
White man had British pop
and black man had soul
But no, not a drop of a blood
'cause video killed the rock'n'roll

and God said "Oh my God!"
What's happened to the human being
What's happened to my lovely creatures
They all become a cold machine
No more love no more power
Machine without gasoline
Wake up Wake up crowd
Wake up from your boring dream

There is lighting
there is thunder
What's up with you I wonder
Lift your shoulders
stamp your feet
produce the extra protein
I'm gonna hit you hit you hit you hit you
hit you with my rythm stick

So let there be light
Let there be sound
let there be a music divine

It's Unza Unza Unza Unza time

sexta-feira

the no smoking orchestra & emir kusturica - unza, unza time!

terça-feira

Voma Lelé e as Moscas Tontas I

“Sou sonâmbulo!”, disse o Voma Lelé, caminhando em direcção à porta, de braços estendidos em frente e olhos semicerrados. “Sou sonâmbulo!”
O Alexandre, que estava a tentar capturar uma mosca contra a vidraça da janela, abandonou a caçada e seguiu-o, soltando risadas: “Hi... hihi... hihihi... Estas sestas são muito fixes... hi... hi...”
“Silêncio! É perigoso acordar um sonâmbulo”, disse o Voma Lelé, com voz cavernosa, imobilizando-se no centro do quarto. O amigo também parou, à espera...
O Voma Lelé, sempre de braços erguidos, dirigiu-se lentamente para a cama, agarrou na almofada e TRÁS! Pregou uma valente almofadada na cabeça do outro que caiu no chão a rir ruidosamente: AH... HA HA HA!

Meninos, juízo !, ouviram dos confins da casa. DURMAM !

O Voma Lelé, tapando com a mão a boca do amigo, disse-lhe: “Cala-te! É muito perigoso acordar os deuses e despertar-lhes a cólera...”
Ficaram algum tempo quietos.
O Alexandre, com os cabelos louros espetados, os olhos azuis muito abertos, começou a ficar impaciente. Por fim, não aguentou mais: “Já estamos a dormir”, repetiu mais do que uma vez, com o seu ar alucinado. “Estamos a dormir!”
O Voma Lelé deu-lhe uma palmada nas costas e confirmou: “É evidente que estamos a dormir. Por isso, vamos fazer uma pequena expedição.”
Saíram do quarto e passearam pela casa.
Na cozinha encontraram uma tesoura velha que servia para amanhar o peixe; continuaram...
Mais à frente, na sala, o Voma Lelé, olhando para uma cadeira, teve uma ideia: "Vamos montar um Salão de Cabeleireiros!"
"Fixe !", exclamou o Alexandre. "Há muito tempo que desejo experimentar esse negócio... Bem gostaria que o meu primeiro cliente fosse o Sr. Clemente, o meu barbeiro."
O Voma Lelé sorriu: "Tu queres vingar-te do homem!"
"É um sádico", o Alexandre estava indignado. "A minha família não acredita. Ele tortura-me com requintes de malvadez e pagam-lhe. Arrepela-me o cabelo com o pente, sem necessidade. Para quê pentear o cabelo que vai cortar ? E sabendo que está todo emaranhado... É um SÁDICO !
"Parece-me que o conheço, já me cortou o cabelo uma vez. Cumprimenta-me sempre muito bem", disse, provocadoramente, o Voma Lelé.
"A mim também, deseja-me sempre um bom dia e depois tortura-me. É um CÍNICO !"
"Ele é coxo ?", perguntou o Voma Lelé.
"É. E olha para mim de lado, enquanto faz clique, clique com a tesoura e mastiga a língua", acrescentou o Alexandre. "Basta vê-lo para se perceber que o homem é tarado. Depois, o corte dura mais de meia hora. No fim, raspa-me o pescoço com uma lâmina e desinfecta-me com álcool. Arde muito. SÁDICO !"
"Fala baixo", pediu-lhe o Voma Lelé. "Se acordarmos alguém somos recambiados para a cama."
"Estamos rodeados por sádicos", concluiu o Alexandre.
"Já chega", disse o Voma Lelé. "Abre a porta. Sem clientes o negócio não pode prosperar."
O Alexandre abriu a porta da rua. Meteu a cabeça de fora e olhou em redor: "Ninguém à vista. Apenas o tapete."
"Óptimo", disse o Voma Lelé. "Manda-o entrar. É o nosso primeiro cliente."
"Faça o favor", disse o Alexandre, conduzindo delicadamente o tapete até à cadeira. "Cuidado com este degrau... Instale-se confortavelmente..."
Equilibraram-no na cadeira com o auxílio de um pano atado ao "pescoço".
O Voma Lelé, afagando-lhe o pêlo rijo, perguntou: "O Sr. Tapete vai desejar cabelo ou barba ?"
O Alexandre, sorrindo, comentou: "Está a precisar de um valente corte. Há muito tempo que não entrava numa barbearia. O meu colega corta-lhe o cabelo. Depois, eu próprio lhe aparo a barba."
O Voma Lelé agarrou na tesoura e, sorrindo de gozo, começou a desbastar-lhe a trunfa: "Descontraia-se. Se o magoar diga."
Entretanto, o telefone começou a tocar: Trim... Trim ...
"Atende depressa ou estamos perdidos...", pediu o Voma Lelé.
O Alexandre, procurando fazer um tom profissional, levantou o auscultador: "Salão Lelé - Cabeleireiro unisexo. Deseja fazer uma marcação?". Depois, tapando o bucal, disse: "É para o teu pai."
O Voma Lelé, encolhendo os ombros, disse-lhe: "Desenrasca-te!"
O Alexandre, simulando interferências electrónicas, disse: "Bim... clique...Não ouço nada... Piuuuu... Não ouço nada... ", e desligou.
Ouviram passos. Entreolharam-se.
O Voma Lelé atirou o tapete na direcção da porta da rua e, quase a sussurrar, disse: “Não temos tempo de fugir. Entra aí!”. Empurrou o Alexandre contra uma porta que se abriu e mergulhou fechando-a atrás dele.

(Jonas)

sábado

Um Sonho na Playstation 2

Capítulo 3

O Duarte também está dentro do ecrã do televisor onde já se encontravam o primo Guilherme e toda a família:

No nível I – O dos ratos (Mice Level).
O Duarte cheio de medo e sem saber como saltar para alcançar o primo Guilherme e a família, primeiro porque estava sem o comando nem o boneco da espada, segundo porque estava num pântano de lama movediça e para salvar a família tinha que saltar para a outra margem do pântano (Unsteady Swamp). Foi a correr e atirou-se ao lago mágico que limpava as doenças dos ratos. Deu um salto para chegar ao local onde estava a família e conseguiu! Ficou eufórico e todos juntos entraram…

No nível II – O dos monstros (Monster Level).
Começaram todos a lutar com os monstros, horrorosamente terríveis. O tio Pedro lutava contra um monstro horrorosamente horrível que tinha oito patas, quatro machados e quatro escudos. O Guilherme lutava com um monstro deliciosamente horrível que transformava as pessoas em chocolates e comia-as. A Kinha estava a lutar contra um monstro de plasticina que como era elástico dava bofetadas incríveis em tudo o que havia por perto. O Topê estava a lutar com um monstro cheirosamente horrível que deitava tanto mau cheiro que quem estava ao pé ficava aflito para ir à casa de banho e o Topê via-se aflito para vencer este monstro. O boneco da espada mesmo sem controlo lutava contra um monstro que tinha dez olhos, cinco braços de cada lado, cinco pernas de cada lado, quatro línguas e dois narizes. Mas de repente, o Guilherme com a sua enorme força deu uma grande pesada no seu adversário e, como por magia, todos os outros monstros desapareceram e a família completa materializou-se…

No nível III – O do monstro chefe (Boss Level).
Também conhecido como a experiência C-581. Uma experiência que tinha corrido pior do que mal e o Boss era um robot completamente desengonçado, parecia zonzo, tragalhadanças… e a cada passo que dava caía no chão como um meteorito a cair no planeta Terra: CATRAPUM! A dificuldade do Duarte em vencer o monstro era evitar que ficassem esborrachados. Mas como é ágil e apesar de ter de proteger toda a família rapidamente encontrou o caminho e entraram…

No nível IV – O do pântano de ratazanas (Mice Master Unsteady Swampyng).
O Duarte e o resto da família saltaram para a prancha para passar por cima de um mar de ratazanas nojentas, peludas que chiavam desalmadamente enquanto tentavam trepar para a prancha. As ratazanas por vezes conseguiam escalar a prancha mas o Duarte ou o familiar que estivesse mais próximo a pontapé atiravam com as ratazanas para o meio das outras. Progrediram a custo e lentamente mas acabaram por alcançar a parte lateral do pântano que tinha outra prancha e depois lançaram-se por uma porta que era a passagem para entrarem…

No nível V – O dos monstros do Rap (The Monster Rap).
Era semelhante ao nível II mas os monstros eram todos iguais, pareciam clones porque com os mesmos tiques estavam sempre a dançar o mesmo ao mesmo tempo, e todos dentro do ritmo: YA! Tinham as feições idênticas e todos abanavam as cabeças ao mesmo tempo. O Duarte, à distância, começou a imitá-los e a dançar com eles. Os monstros cada vez pareciam mais monstruosamente divertidos. O Duarte foi-se aproximando. Depois, foi muito fácil, estalou os dedos como eles e em vez de dar uma palmada na mão do monstro que estava mais próximo enfiou-lhe um grande estaladão na cara e todos os monstros caíram redondos no chão…

No nível VI – O do monstro do pantano (The Swamp Monster).
Este monstro era comandado por um homenzinho que media três centímetros de altura e dois centímetros de largura. Dizia-se que tinha encolhido porque era um grande cientista que tinha feito um produto químico que encolhia e sem querer bebeu-o e ficou assim. O homenzinho era como se fosse o cérebro do monstro e estava dentro da cabeça do monstro que era terrivelmente horrível porque o homenzinho era muito inteligente e estava muito raivoso.
O monstro raivoso rodava e atacava com o machado enquanto o Duarte saltava e saltava e dava um pontapé de roda, um soco e outro pontapé. Fez o truque do Guilherme que era ficar numa pedra muito alta sem se mexer até que o monstro, cansado de falhar tantos socos, parou e finalmente levou um dos pontapés de roda do Duarte.
Então o Duarte, que já estava a apanhar seca, carregou start, quit e foi parar ao nível dos ladrões.

(continua)

Duda

MEIA HORA EM IRABERA

Escondem o céu e disfarçam as nuvens
altíssimas árvores com centenas de anos.
Há nuvens e céu, mas de folhas gratuitas
e pássaros isentos de desenganos

A meio o ar, verde e imóvel,
Que nenhum vento perturbou,
mas um ar jovem, puro, virgem,
que a chuva (ou o tempo infinito) lavou.

E, em baixo adormecida, uma lagoa verde,
sereia fugida do mar e do mundo,
com translúcidos seios amamenta
de água fria os peixes e as pedras do fundo,
e estende os longos braços, dois ribeiros
que afagam e bichos da mata,
e tem a cabeleira de espuma alva e crespa
pousada na montanha, a fingir de cascata.

Aqui valia a pena a eternidade,
Sem passado ou futuro, atento ou inerme.

Árvores, pedras, ar e água,
Peixes e pássaros anónimos,
- tudo isto irá sobreviver-me…
e há que beber depressa este verde silêncio!

O rumor de água e de aves é mentira:
em Irabera há só a sereia que dorme
e sonha e se espreguiça e de leve respira.

in Memória de Timor-Leste, Leonel Neves, 1996

segunda-feira

DRY-MARTINI


De véspera colocam-se dentro do frigorífico todos os elementos necessários à preparação do cocktail: os copos, o gim e o batedor.
Utiliza-se um termómetro que permita verificar se o gelo está a uma temperatura de cerca de 20 graus abaixo de zero.
Depois, sobre o gelo duro deita-se umas gotas de Noilly-Prat (vermute) e uma meia colher de café de angustura. Agita-se tudo e esvazia-se o batedor. Só se deixa o gelo que ficou com um ligeiro vestígio dos dois perfumes e, sobre ele, verte-se o gim puro. Agita-se um pouco e serve-se. É tudo, mas não há nada melhor.


in O meu último suspiro de Luís Buñel

domingo

PEDIDO DE EMPREGO

Há pessoas que fazem fortuna, outras depressões, outras filhos. Há as que fazem humor, há as que fazem amor e as que fazem dó.
Há muito que procuro fazer qualquer coisa! Não há nada a fazer: não há nada a fazer.

Jaques Rigaut (1889-1929)

Para que se saiba

Reflexiones sobre el bombardeo
Noam Chomsky - 14 de Setembro de 2001

Los ataques terroristas constituyeron atrocidades de gran escala. En proporción, puede que no alcanzaron el nivel de muchos otros, por ejemplo, el bombardeo de Clinton a Sudán sin pretexto creíble, que destruyó la mitad de sus provisiones farmacéuticas y mató a una cantidad desconocida de gente (nadie sabe, porque Estados Unidos obstaculizó una investigación en la Organización de Naciones Unidas y a nadie le preocupó darle seguimiento). Sin hablar de casos mucho más graves, que fácilmente vienen a la mente. Pero que fue un crimen horrendo, no cabe duda.

Las principales víctimas, como siempre, fueron trabajadores: conserjes, secretarias, bomberos, etc. Es probable que a la postre se traduzca en un golpe contundente contra los palestinos y otros pueblos pobres y oprimidos. También es probable que conlleve a severos controles de seguridad, con muchas ramificaciones eventuales que podrían socavar las libertades civiles y la libertad interna.

Los acontecimientos revelan, dramáticamente, la necedad del proyecto de "defensa anti-misiles". Como ha sido obvio desde el inicio, y señalado reiteradamente por analistas de estrategia, si alguien quiere causar un daño inmenso a Estados Unidos, incluso con armas de destrucción masiva, es altamente improbable que lance un ataque con misiles, pues ello garantizaría su destrucción inmediata. Existen innumerables maneras más fáciles, que básicamente son imparables. Pero los acontecimientos de ahora serán, muy probablemente, explotados a fin de incrementar las presiones para desarrollar e implementar tales sistemas. La "defensa" es una cortina de humo para cubrir los planes de militarización del espacio, y con un buen trabajo de relaciones públicas, incluso los argumentos más flojos tendrán cierto peso ante un público atemorizado.

En suma, este crimen es un obsequio para la extrema derecha patriotera, aquella que anhela utilizar la fuerza para controlar sus dominios. Y ello, incluso sin tomar en cuenta las probables acciones estadounidenses y lo que éstas desatarán -posiblemente más ataques como éste, o peor-. Hacia delante, las perspectivas son mucho más siniestras de lo que aparentaban antes de las últimas atrocidades.

En lo que concierne a cómo reaccionar, tenemos opciones. Podemos expresar un justificado horror; podemos tratar de entender lo que pudo haber conllevado a estos crímenes, lo cual significa hacer un esfuerzo para penetrar la mente de los probables responsables. Si escogemos este último camino, creo que lo mejor que podemos hacer es escuchar las palabras de Robert Fisk, cuyo conocimiento y claridad en los asuntos de la región son inigualables, después de muchos años de un periodismo distinguido.

Al describir "la perversidad y pasmosa crueldad de un pueblo aplastado y humillado", señala que "ésta no es la guerra de la democracia contra el terror, en la cual se incitará al mundo a creer en los próximos días. También tiene que ver con los misiles norteamericanos estrellados en los domicilios palestinos, y los misiles lanzados desde helicópteros norteamericanos contra una ambulancia libanesa en 1996 y los proyectiles norteamericanos arrojados sobre un pueblo llamado Qana, y con una milicia libanesa -pagada y uniformada por el aliado de Estados Unidos, Israel-, que se abrió paso en los campos de refugiados mediante cuchillazos, violaciones y asesinatos". Y mucho más. De nuevo, tenemos opciones:
podemos intentar comprender, o negarnos a hacerlo, en cuyo caso, se contribuiría a la probabilidad de que lo peor está por venir.

Couscous


Ingredientes: Carne de borrego, cebolas, alhos e cenouras, nabos, tomate, couve branca, curgetes, pimentos, grão cozido, azeite e sêmola.

Condimentos
: Coentros em pó (1), cominhos em pó (1/2), gengibre amarelo em pó (1/2), gengibre em pó (1/2), colorau (1/2).

Preparação: Coze-se a carne que se mistura depois com as cebolas, os alhos e os condimentos (excepto o colorau) – deixa-se ferver deitando-se água. Na 2ª cozedura deitam-se os legumes todos e o colorau. Antes de se servir pode-se juntar um pouco de hotelã.

Preparação da sêmola: Junta-se água fria e sal até inchar. Depois, coze ao vapor sobre o tacho durante ¼ de hora.

Nota: Serve-se com vinho tinto, chá de menta ou mesmo água. E como picante usa-se a harissa ou na falta desta o piripiri.

sexta-feira

O GATO MORTO-VIVO

O Miguel e o seu cão, o Buggy, foram brincar para o parque onde estava um gato que odiava cães. O gato quando viu o Buggy escondeu-se atrás de uma árvore e preparou-se para o atacar com as suas garras afiadas. O gato esperou até o Buggy estar muito próximo da árvore e saltou.
O Buggy que era muito ágil desviou-se e o gato chocou contra o Miguel. Este ficou zangado e atirou-lhe uma sapatada: Pimba!
O gato ficou a ver estrelas e passarinhos. Toda a gente sabe como os gatos gostam de passarinhos… Ora como o gato os via dançar à roda da cabeça, resolveu comer um. E com a pata tentou acertar num deles, mas só conseguiu bater na cabeça: Miau!
Insistiu e bateu outra vez na cabeça: Miau! Quanto mais batia na cabeça, mais zonzo ficava, mais miaus dava, mais passarinhos via e pensava: Agora é impossível falhar, estou envolto numa nuvem de passarinhos. Pás – outra grande patada na cabeça e um grande Miau! O gato não parava: Pás… Miau… Pás… Miau… Pás… Miau…
O Miguel percebeu que o gato estava a ver passarinhos. Apontou a sua espingarda e ordenou ao Buggy: Busca! Busca!
O Buggy ladrou na direcção do gato: Béu, béu, béu!
O gato pensou: Os caçadores vão disparar contra os passarinhos e, como estou no meio deles, vou morrer…
O Miguel disparou: Pum!
O gato desmaiou: Tau!
O Miguel olhou admirado para o cano da espingarda e, depois, para o gato que jazia de costas na relva do jardim.
Uma velhinha vendo a cena começou a gritar: Este miúdo tem uma espingarda verdadeira e matou um gato! Socorro! Socorro! Polícia!
A velha gritava cada vez mais alto: Socorro! Polícia!
As pessoas que estavam no parque ficaram bastante inquietas. O Miguel e o Buggy ainda mais atrapalhados ficaram. E, quando o gato se levantou, os três assustadíssimos berraram:
- MIAU!
- SAIAM DA FRENTE!
- BÉU, BÉU, BÉU!
Um miúdo que estava muito perto deles gritou: UM GATO MORTO-VIVO!
Todos fugiram esbaforidos e o parque ficou vazio.

Jonas & Duda

quarta-feira

Um Sonho na Playstation 2

Capítulo 2

... apareceu na televisão; quem? Quem é que apareceu na televisão?... Nada mais, nada menos do que o neto da avó Teresa, sobrinho da Guida, primo do Duarte, filho da Kinha, o...; quem? Quem é que é neto da avó Teresa, sobrinho da Guida e primo do Duarte e filho da Kinha? Quem? Quem é quem? Se querem saber quem é quem, não percam o próximo episódio. Vamos perder… ah vamos? Não, não vamos? Desculpe mas eu não vou perder!

TRIM, TRIM! - Uma chamada telefónica:

- Quem é quem? Mas que escândalo, estávamos tão entusiasmados com a história quando de repente começaram a dizer disparates. Queremos que continuem a história porque estava muito boa e essas bocas estragam a história. Digam quem é que apareceu na televisão! Está bem?

… quem apareceu na televisão foi o Guilherme, que apareceu exactamente ao lado do boneco da espada (o boneco que o Duarte controlava com o comando da Playstation), e o Duarte com medo de magoar o primo, não tocou com o boneco nele, o Duarte ficou entusiasmado com o que tinha acontecido no jogo, por isso, decidiu ir à casa de banho para ver se conseguia juntar-se ao primo. Entrou na casa de banho e não aconteceu rigorosamente nada. Andou da esquerda para a direita e da direita para a esquerda e nada… O Duarte, entretanto, lembrou-se do jogo, e como tinha medo que o primo se magoasse, voltou rapidamente à sala para continuar a jogar e proteger o primo. Sentou-se à frente da Playstation e ficou tão aflito para ir à casa de banho que teve de abandonar o jogo… Quando chegou à casa de banho: Poof…

(continua)


Duda

terça-feira

Cadáver Esquisito



Rio de Janeiro, Maio de 1976

João, Domingas e Clóvis

Um Sonho na Playstation 2



Capítulo 1

O Duarte que era baixo, magro, rápido, tinha o cabelo castanho claro, olhos azuis, usava sempre relógio, era alegre, esperto, inteligente, gostava de jogar futebol e, embora não tivesse, gostava de jogar Playstation 2, fazia anos, portanto era dia dezanove do mês de Abril, porque foi nesse dia do ano de mil novecentos e noventa e quatro que ele nasceu. A festa dos anos dele era em casa da mãe que era muito grande, tinha dois andares, em cima (no andar de cima) havia quatro divisões: a sala de estar, a cozinha, uma casa de banho, uma sala de jantar e ainda dois buracos no meio da sala de estar, com varandins para ninguém cair lá para baixo (para o andar de baixo) e escada para descerem.
A família estava toda reunida na sala de estar da casa da mãe do Duarte, a Guida, que era um pouco gordinha, de tamanho médio, cabelo castanho claro, olhos azuis, inteligente, esperta, muito culta, gostava de ler, de pintar, de ouvir música e de ver filmes. As prendas do Duarte estavam todas juntas num canto da casa e eram tantas que estavam a cair por um dos buracos.
Uma das prendas que o Duarte tinha recebido era uma Playstation 2, pois ele gostava muito de jogar, mas não se pode jogar Playstation sem um jogo de Playstation, por isso tinha recebido um jogo chamado Shifters que estava a estrear com a ajuda do Guilherme (este era alto, um pouco mais alto do que o Duarte, gordinho, tinha cabelo castanho, olhos castanhos e era esperto) e da Kinha, que era a mãe do Guilherme (ela era magra, alta, tinha cabelo preto e olhos castanhos escuros), estes dois eram peritos em Playstation 2.
Estavam muito entretidos a jogar quando de repente o Guilherme, foi à casa de banho e Poof...

(continua)


Duda

sexta-feira

Para que se saiba


A diferença entre um alentejano e um palerma é óbvia. Um alentejano é um homem que nasceu no Alentejo. Um palerma nasce em qualquer parte!

terça-feira

Al-Muthamid

Ser Sage

Dessedenta em golpes redobrados teu coração:
muito doente se curou assim
e lança-te sobre a vida como sobre presa
porque a sua duração é efémera.

Mesmo que a tua vida durasse mil anos bem cheios,
não seria exacto dizer que ela era longa.

Acaso te deixarás conduzir pela tristeza até à morte
enquanto o alaúde e o vinho fresco
estão aí à tua espera?

Que as preocupações não se tornem senhoras de ti à viva força
enquanto a taça for uma espada cintilante na tua mão.

Conduzir-se como sage é deixar-se assaltar
pelas preocupações até ao mais fundo de si mesmo:
ser sage, para mim, é não ser sage.

Al-Muthamid (Beja, – Agmat, 1095)

domingo

Para que se saiba


A Borboleta-monarca voa 4000 km do Canadá até ao México. Não é detectada pelas defesas militares norte-americanas. E, segundo o astrofísico canadiano Hubert Reeves, provoca tumultos em todo o mundo.